sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Gambiarras e o jeitinho brasileiro

Gambiarras - O jeitinho brasileiro de resolver as coisas

Certa vez um antigo amigo de profissão comentou que estava passando por um problema de tensão elétrica em uma escola técnica particular do RJ onde trabalhava. A escola funcionava de segunda a sexta no horário de 07:00 às 22:00 hs e algumas vezes discutíamos o problema.

Com o tempo, devido a pressão sofrida pelos seus chefes para solucionar o problema, ele pediu uma ajuda aos amigos para fazer uma checagem no local.

Nas conversas, sempre comentava que o problema era esporádico, algumas vezes acontecia 4 vezes em um mês, no outro acontecia 3 vezes, mas não tinha um histórico detalhado. Do meu ponto de vista, você realmente só entende a causa quando vai fisicamente ao lugar realmente passar pela situação.

O problema principal era que este problema afetava diretamente o funcionamento dos equipamentos elétricos, isto é, computadores, impressoras, rede etc... . O comportamento era paralisar alguns equipamentos da operação do local, como se travasse, no final era necessário desligar e ligar novamente o equipamento. Em outros casos, alguns equipamentos foram danificados e até precisaram ser substituídos pelo que comentou.

Combinamos era que na próxima vez em que a situação ocorresse, era para nos avisar diretamente, que eu iria para o local o mais breve o possível com outro conhecido.

Recebemos o aviso, mas no dia estávamos bem atarefados, mas mesmo assim fui ao local. Mesmo chegando 2 horas após o problema ter ocorrido, a situação havia sido normalizada e o problema desaparecido.

Discutimos com a equipe do local. Chegamos a conclusão que para começarmos a trabalhar na causa do problema, era necessário compararmos os históricos antigos, emails e as conversas com os técnicos. Logo depois começamos a elaborar um checklist.

O que estudamos inicialmente:

  1. Estrutura elétrica e aterramento do local;
  2. Nobreaks ligados ao circuito elétrico (UPS);
  3. Levantamento da planta baixa elétrica do prédio e estudo dos pontos elétricos;
  4. Monitorar a taxa de variação elétrica do prédios;
  5. Comparativo de consumo de energia elétrica durante os meses do problema para verificar se houve aumento de consumo de energia;
  6. Entender se a concessionária elétrica responsável (neste caso a Light) fizesse uma checagem da estrutura elétrica próxima ao local da escola e o relógio elétrico da escola.
Dias posteriores a escola contratou um técnico em elétrica para visitar a escola e fazer algumas análises com relação à concessionária e outros testes no local.

O resultado é que o cabeamento elétrico local estava dentro do tempo de vida de 10 anos. Porém o técnico queria também analisar alguns equipamentos. Infelizmente não conseguimos fazer alguma verificação nos equipamentos para não indisponibilizar o funcionamento da escola (operação).

Uma coisa que nos preocupou foi à complexidade e a quantidade de pessoas envolvidas no problema aumentou. Resultado: Em um aspecto positivo isso aumenta a quantidade de idéias para a solução do problema, por outro lado isso aumentou a complexidade e tempo na busca da causa do problema. Você precisa executar as atividades atuais e as novas atividades que foram geradas com as novas idéias em busca da solução do problema.


2a Etapa - Testes realizados fora do expediente:

Com o técnico em elétrica e alguns analistas visitamos o local no final de semana e fizemos outras análises, resultando nos testes abaixo:

  1. Elaborar um relatório e checklist de todas as atividades executadas no dia para mantermos um controle do que foi realizado.
  2. Executar um bypass no Nobreak (UPS) para verificar se havia algo de errado na parte elétrica do local;
  3. Testar o conjunto de baterias do UPS separadamente para verificar se estavam em pleno funcionamento e sem problemas;
  4. Análise dos disjuntores e o projeto elétrico do prédio, pontos e equipamentos ligados a este.
  5. Analisar todos os equipamentos elétricos de uma forma geral, ligados a esta rede elétrica e fazer um cálculo de tensão elétrica.


Resultado -  A Causa do Problema

         Muitos dias de análises e comparações não nos fizeram chegar à causa raiz do problema, a descoberta da causa foi algo inesperado.

         Realmente é difícil para mim até hoje acreditar no que foi descoberto. Há um ano atrás, o encarregado de manutenção recebeu a solicitação de colocar uma lâmpada na saída de uma das janelas laterais do prédio. Como sofreu vários pedidos e pressões da administração, resolveu buscar em uma loja de material de construção na rua comprar um plafonier simples e puxou uma extensão elétrica a partir do teto rebaixado de uma lâmpada. Acabou passando esta fiação pela janela que era uma janela de ferro. O resultado é que o fato de abrir e fechar dessa janela de ferro descascava e amassava e descascava fiação resultando futuramente na causa de um curto, toda vez que a janela era aberta. O mais estranho nessa história me parece ser esse campo elétrico da janela, combinada as lâmpadas fluorescentes da sala. O engraçado era até o barulho de ruído fraco quando você falava no celular ou aquela interferência forte no momento que colocamos um rádio sintonizado em AM no local, no momento em que fizemos a simulação proposital. E porque não foi descoberto isso antes?? O cabeamento elétrico foi pintado da mesma cor que a janela por este encarregado, dificultando a visão deste cabo de dentro da sala, mas fora do prédio, observou-se que não havia uma explicação clara da origem desta extensão. Com isso descobriu-se a gambiarra pelo lado de fora da sala. O correto seria passar esta fiação por cima do teto ou pela parede quebrando a parede adequadamente e usando um duto ou uma tubulação PVC para fazer esta passagem da fiação elétrica.

Para forçar a execução do problema, esperamos a aula terminar no local para abrir a janela e ligar esta luz.

Resultado: Abriu-se a janela e ocorreu o problema na sala com a oscilação das lâmpadas fluorescentes. Logo depois ligou-se a luz de saída da janela lateral do prédio e o curto elétrico ocorria na hora. Ah sim... detalhe... de dia a lâmpada da sala era ligada e ocorria também o curto circuito, mas era um curso de inglês que era feito esporadicamente 1 a 2 vezes na semana.

Essa janela dificilmente era aberta, só esporadicamente para limpeza ou alguma atividade dentro da sala durante o dia, por isso a dificuldade da detecção do problema.

Como o clima já estava bem tenso a foto não foi tirada. Meu amigo já estava bem estressado quando presenciou a questão e abandonou o local. Em alguns livros e estudos de causas de problemas, um problema grave é um agravo de causas pequenas ou erros de controles de pequenos processos do dia a dia. Admito que quanto mais trabalho nesta área, mais sou surpreendido. O meu chute era para algum equipamento elétrico no local com falha, uma bola totalmente para fora.

A pergunta que me persegue até hoje: Porque o disjuntor referente ao local não desarmou devido ao curto criado na abertura da janela? Lembrando que estes haviam sido substituídos, segundo a observação do técnico de elétrica. Ainda se discute este assunto até hoje.

Lições Aprendidas:

1 - Sistemas de Gestão de Serviços foram criados por este motivo: Toda e qualquer solicitação de serviço precisa ser registrada em um sistema de gestão informatizado, a fim de evitar que problemas futuros apareçam. Isso deve servir para todos os profissionais que prestam serviços. Mesmo que o técnico não tenha acesso ao sistema, algum responsável deve ajudar a registrar esta solicitação. Inclusive quando a atividade for concluída, informar como o serviço realizado, com a data e os responsáveis pela execução do serviço. Alguns ainda pensam que os criadores destes sistemas simplesmente os criaram por lazer, mas estavam errados, eles são essenciais para as empresas que dependem de serviços, seja qual for a modalidade de serviço.

2 - Tenha um responsável pelo acompanhamento e reporte do problema: Atividades por mais simples que sejam precisam ser supervisionadas e cuidadosamente planejadas junto à equipe responsável. No caso acima, o acompanhamento de um responsável com um conhecimento analítico elétrico seria a melhor solução, mesmo que não tenha, uma pessoa terá de ser nomeada através do processo "eu te batizo o responsável por acompanhar esta tarefa".

3 - Tenha uma forma de documentar as informações sobre o problema: Sempre armazene as informações (sistemas de gestão de serviços, relatórios, planilhas, checklists ou outro modelo de controle) a respeito do problema ocorrido para garantir com que os estudos de causa referentes ao mesmo problema avancem periodicamente e sejam solucionados de forma mais rápida e eficiente.

4 - Apresente uma solução de contorno: Por mais difícil que seja e se não sabe quanto tempo levará para resolver o problema, tenha um plano de uma solução de contorno enquanto analisa a causa principal. Isso ajuda a equipe a conseguir trabalhar sem ser interrompido pelos responsáveis.

5 - Troca de idéias e informações (brainstorm): Saiba praticar "escuta ativa", isto é, ouvir todos os membros da equipe para verificar seus pontos de vista e suas idéias, muitas delas podem ser a saída para a solução do problema. A comunicação entre a equipe deve fluir sempre.

6 - Comunicação: Tenha sempre um plano de comunicação para avisar os responsáveis sobre o andamento das atividades, isso mostra o progresso da equipe, os passos executados e fornece um feedback/retorno para os gestores. Mesmo porque eles também são cobrados por seus superiores sobre o status das atividades. Inclusive a comunicação precisa fluir entre a equipe durante a atividade.


Estudos e melhoramentos a partir da análise das lições aprendidas:

  • Teste de Falha (queda de luz): Teste de indisponibilidade da concessionária elétrica, para verificar se a fonte de energia ininterrupta, isto é, o dispositivo UPS (Nobreak) está alimentando adequadamente os dispositivos de TI do local dentro do período aceitável;
  • Realizar um Plano de Comunicação para todos os funcionários: Muitos funcionários estavam cientes do que estava ocorrendo. Todos os funcionários foram levados para o auditório para apresentá-los a causa raiz do problema e informá-los que todas as solicitações de serviço agora terão de ser realizadas através da abertura de um ticket (chamado). Desta forma você tem um registro de atividade e isso facilita a busca de mudanças ocorridas durante um período. 
  • Planta Elétrica: Foi atualizada a documentação da planta elétrica e atualização de alguns pontos elétricos; 
  • Troca de equipamentos elétricos: Revisada a questão do aterramento do local, todas as tomadas foram trocadas por tomadas de três pinos e substituição dos disjuntores. 
  • Estudos Elétricos: Cálculo exato de tensão e substituição de disjuntores devido ao crescimento de consumo elétrico (pontos elétricos, computadores e outros equipamentos novos); 
  • Nobreak (UPS): Substituição das antigas baterias do dispositivo UPS; 
  • Aquisição de estabilizador: Como a ideia do colégio era crescer mais devido ao plano de criação de novos cursos (mais salas de aula, computadores etc...), a sugestão seria a de inclusão de um estabilizador mais profissional na entrada do CPD (de qualidade e porte para atender esta demanda). Se o modelo de negócio precisar garantir a criticidade da operação, um estabilizador de porte pode incorporar as funções de um filtro de linha garantindo a proteção dos dispositivos conectados a rede elétrica. O estabilizador é um equipamento que possui o objetivo de proteger aparelhos eletrônicos das variações de tensão que recebe da rede elétrica. Portanto, as tomadas devem trazer energia estabilizada, diferente da energia que vem da rua, exposta a variações. Em alguns testes, foram pegos taxas de variação de energia no circuito elétrico.
Um ponto a ressaltar é que como “Brasileiros“ algumas vezes precisamos repensar se o nosso jeitinho brasileiro de resolver as coisas é realmente adequado a determinadas situações. Pois isso acaba sendo um elemento que pode nos fazer pagar um preço alto mais a frente, justamente como no exemplo que mostrei acima. Não venho aqui criticar o encarregado de manutenção que realizou o serviço, mas o fato de que os responsáveis envolvidos discutam como apresentar uma forma de trabalho diferenciada que apresente resultados significativos, isso é um compromisso de todos (gestores, diretores, supervisores e funcionários). Como algumas vezes comento, o brasileiro é excelente no requisito de criatividade, mas é péssimo em planejamento e execução. Muita gente era fã da série do MacGyver (Profissão Perigo) e até se inspiraram neste programa para fazer esses fantásticos gatilhos, mas cuidado com os exageros, pois na TV tudo é mais fácil, mas não vamos esquecer que a vida real é bem mais complicada.



























quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Os desafios para conseguir empreender no Brasil


Os desafios para conseguir empreender no Brasil

    Recentemente fui assistir a uma palestra de empreendedorismo em uma Universidade. A impressão que tive foi uma visão parecida que alguns profissionais do Linkedin onde estes comentam sobre "a fantástica falácia do empreendedorismo" em seus posts, e não é toa que boa parte dos comentários deles são verdadeiros. 

    Você observa muitos livros falando a respeito do empreender politicamente correto no Brasil baseados em conceitos tradicionais, mas ainda há uma certa dificuldade de se mostrar qual é o verdadeiro desafio de conseguir fazer esta atividade no país. No Brasil ainda existem vários elementos que não contribuem significativamente para isso. Um exemplo disso são as próprias escolas de primeiro e segundo grau que não possuem disciplinas de educação financeira, administração, projetos e planejamento. Esses conceitos quando chegam mais cedo na cabeça dos jovens servem como elementos fundamentais para o seu desenvolvimento tanto no lado pessoal como profissional.

    Dependendo da complexidade da ideia de negócio quando falamos em investimento financeiro, as pequenas ideias conseguem seguir adiante e isso pode ser considerado o início. Mas as ideias de negócio mais complexas que exigem um alto valor financeiro, podem a vir a ficar paralisadas e por fim perder o seu tempo. Isto porque, se os bancos e investidores não ficarem com uma boa impressão da sua ideia de negócio, acabam vetando o seu investimento, mesmo que você tenha escrito ou apresentado um excelente plano de negócios.

Pessoal... vocês já viram como o pais é Governado? Ele é o reflexo do nosso modelo cultural e educacional. Atualmente temos um ministro de ciência e tecnologia que detesta tecnologia sendo admitido através de cargo de confiança. O desenvolvimento em pesquisa e tecnologia teve seus investimentos reduzidos para pagar dívidas da crise que passamos. O governo desistiu do PRONATEC e a coisa simplesmente foi suspensa... depois eles falam de "uma pátria educadora". E olha que nem falamos do BNDES que não apoia os empreendedores da forma que deveria ser feita. Nas propostas aprovadas por eles ao investir no negócio, eles querem ficar com 60% do negócio, tomando o controle do negócio do empreendedor. As faculdades possuem com milhares de trabalhos de conclusão de curso (TCC) que ficam em prateleiras ou jogados em um canto nestas instituições.

    Ainda assim o povo é guerreiro e segue em frente. Mas uma das variáveis que devem ser levadas a sério é o planejamento. Se você tem uma ideia de negócio o importante é:

  • Quanto tempo deverei me dedicar ao negócio?
  • Qual é o valor do investimento? Isto é, o gasto inicial para começar, o gasto mensal (material,  fornecedores, funcionários, impostos)?  Ter um controle detalhado dos gastos e uma gordura para alguma surpresa inesperada.
  • Eu tenho escrito um passo a passo de como o negócio irá funcionar? Há um plano de negócio detalhado para apresentar?
  • Foi feito uma análise da minha concorrência? Se sim... como o produto deles funciona em relação ao meu? Qual seria o meu diferencial?
    Muito se é falado sobre o tema, mas é necessário ter os pés no chão. Justamente pelo fato da educação de algumas pessoas não ser fundamente focada em administração, finanças, projetos e planejamento. Uma boa gestão e administração de negócios são elementos essenciais para o sucesso de um empreendimento. Digo isso porque já vi alguns destes negócios fracassarem pela ausência destes elementos. 

    Sugiro vocês a questionarem aos seus filhos se as escolas deles possuem estas disciplinas. Já vou adiantar que poucos terão, e sabe porque? Porque as escolas de ensino básico e médio ainda estão preocupadas em atender aos requisitos do MEC com seus regulamentos e normas jurássicas. Em um mundo que vivemos de constantes mudanças e transformações, onde já se é falado da quarta revolução industrial (inteligência artificial) nossos jovens precisam estar mais do que preparados. E não ainda ter que esperar fazer uma faculdade para ver se ainda irá vir a cursar estas disciplinas, isso se estas disciplinas estiverem presentes na grade curricular do respectivo curso ao qual farão. 

    Estudem sempre, pensem bastante a respeito de comunicação, trabalho em equipe, projeto e principalmente em planejamento. Você não precisa de uma "faculdade" para empreender, mas "conhecimento" é fundamental.  Todo mundo quer definir o que é empreendedorismo hoje, mas isso fica preso algumas vezes a conceitos do empreender politicamente correto. O brasileiro é ótimo no elemento "criatividade", e até mais do que em outros países, mas ele é péssimo em planejamento e execução. Empreender é desenvolver a sua criatividade e inovação.

    Não deixem que definam o que é empreendedorismo para você, pois isso é muito pessoal. Saia dessa caixa do empreender politicamente correto. 

Ainda estamos na inércia.